Aluna diz ter sido fotografada por cima de box do banheiro na UFRN; 'Medo'
Suspeito estava no box ao lado, ele trabalha em empresa terceirizada. Estudante registrou boletim de ocorrência e o homem foi afastado do serviço.
“Estou com medo de ir à universidade. É um lugar aberto, ele vai ter
acesso ao corredor, ao banheiro. A ouvidoria já disse que não é possível
colocar um segurança
lá”. As palavras são da estudante Ísis Oliveira, de 19 anos. Aluna do
cursinho do Diretório Central dos Estadudantes (DCE) da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), que oferece aulas preparatórias
para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), a jovem disse ter sido
fotografada por um funcionário de uma empresa que presta serviço à
universidade enquanto estava no banheiro feminino. O caso aconteceu na
segunda-feira (23).
De acordo com a estudante, tudo aconteceu por volta das 9h30, no
intervalo entre duas aulas. Ela e outras duas amigas aproveitaram o
tempo para ir ao banheiro. “Ficamos conversando dentro do banheiro por
uns 5 minutos até eu entrar no box. Entrei no único que tinha papel
higiênico, que era vizinho a uma cabine que estava com a porta trancada.
Quando já estava saindo, vi uma mão segurando um celular por cima do
box, fazendo uma foto minha. Foi quando gritei pelas minhas amigas”,
disse Ísis.
Uma amiga que já estava dentro do banheiro ficou na frente da porta do
box trancado, batendo nela e mandando a pessoa sair. "A minha outra
amiga, que estava fora do banheiro, entrou na cabine vizinha, subiu no
vaso sanitário e olhou por cima. Foi quando identificamos um homem
vestindo a farda da empresa terceirizada que presta serviços à UFRN",
relatou.
De acordo com Ísis, o homem alegou que estava trabalhando na manutenção e tinha como função bater fotos
do banheiro. “Perguntei se o trabalho dele era bater fotos minhas lá
dentro, mas ele continuou dizendo que estava apenas fazendo o serviço
mandado. Se ele fosse realmente da manutenção, avisaria que estava ali.
Não havia nenhum aviso no banheiro, ele estava em silêncio e com a porta
do box trancada”, reclamou.Quando conseguiram convencer o homem a
entregar o celular, as meninas identificaram que não havia mais nenhuma
foto na câmera. “Ele pode ter colocado em algum aplicativo, colocado em
alguma rede social. Não sabemos”, continuou.
A confusão no banheiro chamou a atenção de alguns alunos. Segundo a
estudante, um aluno do curso de Direito aconselhou que ela não
discutisse com o homem e fosse até a delegacia. “Ele disse para não
discutir mais porque eu estava muito nervosa e que eu levasse o caso à
polícia. Mas aí apareceu outro homem dizendo que eu deixasse de lado,
porque como não tinha mais foto, não tinha nenhuma prova. Disse que não
ia dar em nada”.
Acompanhada das amigas, Ísis voltou ao cursinho do DCE e procurou o
coordenador. Juntos, eles foram até a administração do Centro de
Ciências Sociais Aplicadas (CCSA) para fazer uma reclamação. “Quando
chegamos lá, o homem já estava lá contando a versão
dele. Mas ele não havia dito que tinha fotografado por cima da porta.
Quando contei o que realmente havia acontecido, ele admitiu o que tinha
feito. Mais uma vez me aconselharam a ir até a delegacia”, relatou Ísis.
Após fazerem a reclamação, as meninas pegaram o material na sala de aula
e foram se encontrar novamente com o coordenador do cursinho. “Ele
estava com alguns seguranças da universidade no estacionamento. Um dos
seguranças, que se identificou como chefe da segurança, tentou me
desencorajar a levar o caso para frente, disse que não haviam provas”,
contou.
O caso foi registrado na 5ª Delegacia de Polícia Civil de Natal. Segundo
o delegado René Lopes, o caso ainda está sendo tratado como uma
'suposta importunação ofensiva ao pudor'. “Eu ouvi a aluna que
supostamente foi fotografada e também as colegas que presenciaram a
cena. Ainda vamos ouvir outras testemunhas e o próprio suspeito para
tomar algum posicionamento de fazer um Termo Circunstanciado de
Ocorrência (TCO) ou então abrir o inquérito”, explicou o delegado.
Inicialmente, o depoimento do suspeito foi agendado para o dia 20 de
julho. No entanto, o delegado afirmou que vai tentar reaprazar a oitiva
para uma data mais próxima. Além disso, o delegado disse que vai
solicitar à empresa na qual o suspeito trabalha e à UFRN, onde ele
presta serviços, o histórico do funcionário.
“Também queremos ouvir mais testemunhas. Temos que verificar se há
outras jovens que presenciaram ou passaram por algo dessa natureza e não
falaram por receio, vergonha ou algum outro motivo”, concluiu René
Lopes.
Além da denúncia na polícia, o estudante de Direito que deu suporte à
Ísis prestou uma denúncia junto à ouvidoria da UFRN. De acordo com a
ouvidora substituta Edy Batista, o funcionário já foi afastado. “O caso
aconteceu na segunda-feira e foi registrado por meio do sistema da
universidade. O funcionário foi devolvido à empresa e não vai mais
prestar serviços aqui na UFRN. Ele já não voltou à universidade nesta
terça para trabalhar”, garantiu a ouvidora.
“Há quanto tempo ele estava ali? Quantas pessoas passaram por aquele
banheiro e ele tirou fotos? Por que passamos por esses absurdos e temos
que nos conformar que vai dar em nada? Onde está nossa segurança? Pode
ser constrangedor contar o que houve, mas, mais constrangedor ainda é
passar por isso e ficar calada”, concluiu Ísis.
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